Conferência Internacional 100 anos

Para celebrar os 100 anos de nascimento do filósofo, pedagogo, nosso pensador da ontogênese, da relação, Gilbert Simondon, organizamos 8 mesas de debate e o (re)lançamento da coletânea Máquina Aberta, dedicada ao autor. Serão 25 palestras versando sobre os mais variados temas nos quais são mobilizados conceitos e métodos apresentados por Simondon em suas teses de 1958, levados adiante em seus cursos e palestras até 1989.

Serão oferecidos certificados para participação em pelo menos 70% das atividades, que se iniciam no dia 1/10, às 10h, encerrando-se o Colóquio Internacional às 17h da quinta-feira, dia 3.

O evento é híbrido e contará com 4 apresentações em espanhol, de pesquisadores da Colômbia e Argentina, integrantes da Red Lationamericana de Estudios Simondonianos. As 21 demais, serão em português, com transmissão ao vivo pela internet.

1/10 – Terça-feira

MESA 1: 10h – 11h30

  • Ouvir as Máquinas
  • Tecnoestética da Alienação: pequena genealogia da tela de Iphone
  • Pensar a Tecnoestética de Simondon: entre o cinema e o design

Mediação: Bernardo Oliveira

MESA 2: 13h – 14h45

  • Carol Macdonald
  • Vincent Bontems
  • Pablo Rodríguez
  • Drew Burke

Mediação: Andrea Bardin

Tradução Simultânea para o Português.

MESA 3: 15h-17h

  • “Precisamos criar um Brasil”: Antropogênese e “Cultura Técnica” em Simondon
  • Que Simondon Latino-americano é esse?
  • Sistemas Complexos e Individuação

Mediação: Veronica Damasceno

2/10 – Quarta-feira

MESA 4: 10h – 11h30

  • Ontologia da Relação e Pensamento Ambiental Contemporâneo: a questão da Axiologia
  • Terraformar entre Tradição e Tecnologia
  • Metendo os Pés pelas Mãos: a Magia dos Encantados nas Redes de Subjetivação Digital

Mediação: Bia Martins

MESA 5: 13h30 – 15h00

  • Cibernética vs. Inteligência Artificial: cenas da batalha final 
  • Gilbert Simondon e a Filosofia da Informação
  • Hacia una Visión Tecnogeográfica de la Noción de Medio desde Simondon

Mediação: Vinícius Portella

MESA 6: 15h30 – 17h -> Lançamento

3/10 – Quinta-feira

MESA 7: 10h – 11h30

  • Simondon, Artesania e Objetos Técnicos na Educação
  • Alcances y Límites de la Concretización
  • Alagmática da Crise do Ciberespaço-Tempo Capitalista: o caso do Smartphone

Mediação: Thiago Novaes

MESA 8: 13h30- 15h

  • Desmitificando Algoritmos e Futuros Tecnológicos: os direitos digitais de comunidades negras e indígenas no Brasil
  • Simbionte enquanto Techné
  • Uma Antropologia Política Transindividual

Mediação: Bernardo Oliveira

MESA 9: 15h30 – 17h

  • Os Territórios Têm Algo a Dizer: quem constrói as narrativas da cidade?
  • Toda Mecanología es Jurídica: la jurisprudencia recobrada entre Bob Dylan y Simondon
  • Psicología de la Individuación y (Neo)Cibernética

Mediação: Fernanda Bruno

RESUMOS

MESA 1: 10h – 11h30

-> Arte e Tecnoestética

Ouvir as Máquinas

Esta apresentação parte de um objeto técnico, um motor de combustão à gasolina de 4 tempos, cujo mecanismo de funcionamento central foi desenvolvido e patenteado há cerca de 150 anos. Desde então, todos os motores dessa linhagem, acoplados a carros, máquinas agrícolas ou de construção civil, seguem reencenando essa mesma operação no mundo. Com Simondon, pensamos que um objeto técnico “emerge na superfície do presente, mas com um passado muito longo ” (SIMONDON 1966 p.34). Uma máquina não seria apenas este objeto diante de nós, mas uma operação que carrega consigo sua gênese, já que ela cristalizaria o dinamismo através do qual foi produzida (SIMONDON 2014, p. 254). Mais precisamente, haveria mesmo uma analogia, ou um isodinamismo, entre a operação de invenção que está na gênese desse objeto técnico e a operação física que esse objeto inventado, uma vez construído, segue fazendo funcionar. A apresentação busca pensar a relação entre o processo inventivo de uma máquina e seu prolongamento no próprio objeto – que, desse modo, perpetuaria em seus movimentos a própria operação que o inscreveu no mundo, como uma gênese continuada. 

O objeto técnico inventado se tornaria assim uma espécie de “via” capaz de transmitir “de indivíduo a indivíduo certa capacidade de criação”, fazendo irradiar o pensamento inventivo (SIMONDON 2020b p.523). Estendendo esse processo à invenção e produção de objetos na arte, se há analogia entre os processos que engendram o objeto e o objeto formado, podemos pensar também que, num momento seguinte, o objeto, como via de transmissão, poderia disparar num outro corpo um estado análogo ao que o produziu – ainda que não saibamos muita coisa sobre ele.

Tecnoestética da alienação: pequena genealogia da tela de iPhone

Tecnoestética é um conceito de Simondon esboçado numa carta escrita a Jacques Derrida nos anos 1980. Longe de receber o tratamento rigoroso que Simondon dá aos conceitos que estabelece nas suas duas teses, a ideia de tecno-estética é apenas rascunhada como uma série de impressões sem pretensão sistemática. O que pretendo fazer nesta fala é uma aproximação deste esboço conceitual com a crítica mais geral de Simondon à alienação técnica, tendo como objeto específico a tela do iPhone. 

Para fazer isso, discutiremos também a pesquisa de Bernard Dionysius Geoghegan sobre a genealogia da tela de computador e o trabalho pioneiro de Douglas Engelbart na construção do paradigma dominante de interface para computação pessoal.

A ideia é investigar de que maneira o modelo de cultura digital do Vale do Silício produz, por meio de seus dispositivos, uma experiência tecno-estética essencialmente alienada de suas condições materiais de produção e reprodução

Pensar a tecnoestética de Simondon: entre o cinema e o design

Este trabalho visa articular o que Gilbert Simondon designa tecnoestética com a Cultura e as artes, em especial o Design e o cinema. Simondon atribui uma importância aos modos de existência dos objetos técnicos e considera fundamental a inserção desses objetos na cultura e na estética. Para ele, há uma necessidade imperiosa de reconhecermos a importância desses objetos em nossa sociedade. Tanto a cultura quanto o pensamento estético, de modos diferentes, são capazes de inserir os objetos técnicos na sociedade, uma vez que cada uma dessas atividades em sua especificidade própria, desempenha uma tarefa fundamental. Exemplo disso, nas artes contemporâneas, são o cinema e o design, os quais dão suporte a uma experiência estética. Pretendemos, pois, nesse trabalho introduzir uma articulação da tecnoestética de Simondon com a cultura e as artes, em especial o design e o cinema. Tais expressões artísticas se servem das novas tecnologias e transformam, até certo ponto, as artes ou mesmo o modo de se fazer arte e de pensá-las. Compreendemos que essas duas experiências estéticas correspondem, precisamente, às ideias inovadoras de Gilbert Simondon.

MESA 2: 13h – 14h45

-> Retransmissão

MESA 3: 15h-17h

-> SIMONDON, porque sim!

“Precisamos criar um Brasil”: Antropogênese e “Cultura Técnica” em Simondon

Ao constituir-se como dispositivo de integração de múltiplas subjetividades à uma coletividade idealizada, a pedagogia moderna se situa conceitualmente, ainda hoje, entre a necessidade de se “humanizar os humanos” (Kant) e produzir a formação do “homem coletivo” ou, nas palavras de Nietzsche, “o homem de Rousseau”. A perspectiva da educação como “integração”, requer em primeiro lugar, a remissão da individuação a um princípio teórico, segundo o qual prescreve-se uma perspectiva idealizada da antropogênese, considerando o homem como um conteúdo a ser obtido ou, como afirma Deleuze, um “resultado”. Nesse contexto, tornou-se senso comum a noção de que uma suposta aceleração tecnológica vem propiciando um lapso incontornável entre a escola e o estudante. Citando o teórico norte-americano Marshall McLuhan, o poeta Décio Pignatari afirma: “é preciso substituir a instrução pela experimentação e pela invenção”, ao passo que o papel do professor deve ser modificado: “Uma classe deveria ser uma equipe de trabalho, da qual o professor fosse o coordenador — um coordenador que aprendesse juntamente com seus alunos na medida mesma em que experimentasse e coordenasse.” Essa atitude, porém, demanda toda uma “reforma da cultura”. Nesse contexto, somos impelidos a retomar o problema da antropogênese a partir da noção de “individuação” em Simondon, isto é, a individuação biológica e social repensada à luz de uma rede de saberes egressos do pensamento contemporâneo, da física, da biologia, da psicologia, da informática, entre outras ordens de conhecimento. Como afirma Bruno Latour, o conhecimento contemporâneo parece caminhar para uma relação fundamental com a complexidade, mas “a epistemologia, as ciências sociais, as ciências do texto, todas tem uma reputação, contanto que permaneçam distintas.” A sociedade mudou, mas a educação manteve-se estancada nas prerrogativas lógico-formais do saber científico do XVIII. A aceleração da comunicação, que propicia a condição de uma sociedade metaestável, requer uma outra concepção da técnica, segundo a qual ela constitui “uma dimensão importante da cultura”, que precisa ser incorporada à formação em toda a sua plenitude. Reabilitar a técnica à educação pode criar, desde a idade pueril, uma percepção aguda e inclusiva da capacidade de invenção, “a única garantia de acoplamento homem-máquina que não é alienante para os seres humanos e permite ao mesmo tempo o acesso técnico à dignidade da realidade cultural.” A educação, portanto, carece de incorporar a tomada de consciência técnica — de uma “cultura técnica” — como modelo para a formação em geral, propiciando o alargamento da cultura geral ou universal e impulsionando dinâmicas pedagógicas centradas na capacidade invenção.

Sistemas Complexos e Individuação

A renovação radical que Simondon propõe para o conceito de individuação se revela especialmente eficaz quando aplicada ao exame do comportamento de sistemas materiais, orgânico-ecológicos e sócio-cognitivos de muito alta complexidade. Em particular, capacidades adaptativas vinculadas ao desempenho de funcionalidades “inteligentes” podem ser abordadas de maneira inovadora a partir de uma perspectiva simondoniana sobre seus fundamentos, processos e desdobramentos.



MESA 4: 10h – 11h30

-> Imaginação, Subjetividade e o Antropoceno

Simondon foi um dos primeiros pensadores contemporâneos a mobilizar explicitamente uma ontologia da relação. No século XXI, identificamos no pensamento filosófico ambiental do século XXI uma orientação ontológica relacional, próxima da desenvolvida por Simondon, porém, muitas vezes sem lhe referenciar adequadamente. O que pretendemos argumentar nesta apresentação é como uma ontologia da relação, tal como a proposta por Simondon, pode ser identificada no pensamento de Donna Haraway, Karen Barad e Bruno Latour. Após esta primeira identificação, propomos um segundo movimento: no pensamento ontológico-relacional destes autores encontramos uma axiologia implícita, ausente na formulação de uma ontologia da relação como desenvolvida primeiramente por Simondon. Esta axiologia subscreveria à ontologia da relação uma natureza ética imediata, no sentido de uma afirmação da alteridade. Comparemos, assim, a ontologia da relação em ambos os casos a fim de precisar o estatuto desta axiologia implícita e a sua real necessidade.

Terraformar entre tradição e tecnologia

O primeiro retrato da Terra tirado durante a missão da Apollo 11 em 1972. Hoje, esse retrato de um planeta tão azulado quanto idealizado é complementado por imagens obtidas via satélite e/ou compostas por dados extraídos por programas de computador que retratam terras completamente desfiguradas pela ação do humano. Em nossa era denominada Antropoceno, são travados debates vigorosos. Autores como Benjamin Bratton que defende arduamente a terraformação – uma artificialização total da Terra por meio da tecnologia e do design enquanto outros como TJ Demos, em sentido oposto, considera que somente um ativismo de base – raiz, pode combater o desastre climático do planeta Terra. Cético com relação à cultura visual contemporânea, reivindica o fechamento das infraestruturas produtivas responsáveis por tais desastres de modo semelhante a muitos movimentos ecológicos mundo afora. O único design possível seria um design do desmantelamento das infraestruturas e equipamentos que nos trouxeram até aqui, em suma, um design desconstruído, um desdesign. Ora, para além de oposições binárias (tais como tradição versus tecnologia entre outras) é possível entrever outras articulações através da emergência de uma cultura do design a partir dos objetos técnicos e dos cosmogramas mencionados por John Tresch ou da arte cosmopolítica de Jaider Esbell, e assim aventar um cosmodesigns.

MESA 5: 13h30 – 15h00

-> Tecnogeografia e Cibernética

Cibernética vs. Inteligência Artificial: cenas da batalha final 

A partir da leitura de Gilbert Simondon da cibernética, iremos propor algumas cenas de como esta fornece alternativas para o desenvolvimento da Inteligência Artificial nos dias de hoje. Iremos abordar a cibernética e a IA enquanto tecnologia intercientífica e intracientífica a partir do que Simondon propõe como equivalência funcionais, vínculos operatórios e monismo ontológico radical. Também pensaremos a partir da tríade elementos, indivíduos e conjuntos técnicos que tipo de máquina ou objeto técnico digital é a IA; e como ela está reconfigurando a dimensão transindividual da técnica nas relações afetivas e psicossociais. 

Gilbert Simondon e a Filosofia da Informação

Esta apresentação versa acerca do significado do conceito de informação de Gilbert Simondon no contexto das filosofias da informação do século XX. Para tanto, trata de que maneira podemos considerar a filosofia informacional de Simondon parte da segunda onda da cibernética, na qual as interações são pensadas para além de um esquema probabilístico quantitativo. A cibernética foi um projeto científico e epistêmico inicialmente articulado pelo matemático Norbert Wiener, visando fornecer novas bases metodológicas e conceituais para investigações acerca das mútuas determinações entre os elementos que compõem qualquer fenômeno. Neste projeto, é central a noção de informação como a entropia negativa de uma transmissão, ou seja, a capacidade de uma transmissão gerar organização onde não havia. A partir de certo momento, entretanto, os desdobramentos da cibernética passam a ser levados para além das possibilidades de quantificação de suas proposições. É neste momento, com autores como Donald Mackay e Gregory Bateson, que a noção de informação passa a ganhar um caráter semântico e qualitativo para dar conta não apenas das transmissões nas interações, mas para fundamentar o sentido pelo qual pensamos estas interações. É neste contexto que a noção de informação de Gilbert Simondon se encaixa: com ela, o autor francês reverbera o movimento argumentativo desses autores de pensar a informação na sua qualidade de sentido, e, ao inscrevê-la no seu projeto ontogenético de uma filosofia da individuação, acrescenta ao debate cibernético do período um caráter propriamente filosófico ao conceito.

Hacia una Visión Tecnogeográfica de la Noción de Medio desde Simondon

La noción de medio aplicada a la biología tiene una larga historia y un origen que Canguilhem atribuye con mucho acierto a la mecánica newtoniana, con su eter luminífero, cuyas apropiaciones tendrán diferentes matices a lo largo del siglo XIX : Lamarck hablará de medios en plural y de una desconexión entre la naturaleza y los vivientes, que los lleva a realizar un esfuerzo renovado para no ser abandonados por el medio, a adaptarse. Comte intentará unir la noción de medio como fluido en el que está sumergido el organismo, con las circunstancias exteriores que lo rodean. Darwin aportará una concepción biogeográfica del medio, pero que se mantiene como fuerzas físicas que actúan sobre el viviente. Para Uexküll el medio físico será solo un Umgebung, el entorno geográfico trivial o nuestro medio ambiente, pues el medio circundante para el viviente, su Umwelt, es creado por el mismo a partir de los estímulos que tienen un valor de signo. No se ignora la realidad geográfica, sino que se hace énfasis en el comportamiento de los animales como creadores de su mundo perceptivo. Los trabajos de Uexküll abrieron la posibilidad de salir de una concepción lineal y mecánica del medio en relación al viviente, pero también permitieron allanar el camino hacia un humanismo más allá de lo humano, o hacia una etología que comprenda al humano. Simondon, al poner el acento en la condición humana de los objetos técnicos, presiona el abandono de un humanismo fácil, para darle la entrada a un tecnohumanismo. El medio para Simondon ya no es algo externo que rodea al organismo, o algo preexistente, sino que surge en el proceso mismo de individuación, que está asociado al individuo mismo en su emergencia. Como en Uexküll, el medio en Simondon también es un recorte del medio ambiente, pero ya no cumple una función de estímulo o de signo perceptual. Más bien se integra con el organismo o en el funcionamiento del objeto técnico, constituyendo un medio tecnogeográfico. Yuk Hui menciona que la ecología ya no corresponde a las relaciones del viviente con su ambiente, tal como lo había formulado Haeckel en el siglo XIX, sino que ya debe ser entendida en términos cibernéticos, pues el planeta mismo ha pasado a ser un artefacto en una relación de control y de retroalimentación con otros dispositivos tecnológicos. Esto nos crea interrogantes, porque en aras de un organicismo, también se plantea una visión totalizante como puede ser la de cosmotécnica que formula el autor. La noción de puntos clave, planteada por Simondon, nos parece que conserva la fuerza suficiente para expresar la singularidad técnica en relación con el medio, pues hay una dimensión estética, que llega a ser una epifanía cuando el objeto técnico encuentra el lugar que le corresponde en el mundo. Esta connaturalidad entre técnica y medio, al ser una relación completamente transductiva nos hace repensar las nociones de técnica, de naturaleza, de medio ambiente, de humanismo y de diversidad.

MESA 6: 15h30 – 17h -> Lançamento

Coleção Máquina Aberta

A presente coletânea reúne 18 artigos dedicados ao pensamento de Gilbert Simondon, incluindo a tradução de A Mentalidade Técnica, do autor, e versões em português de textos originais em espanhol, inglês e francês. A proposta é ao mesmo tempo introduzir e aplicar os conceitos de Simondon desde abordagens vindas de diferentes disciplinas, além de apresentar uma gama de pesquisas de professores, doutores e mestres interessados na obra do filósofo francês cujas teses foram recentemente traduzidas ao português. Dividido em quatro seções, este primeiro volume da Máquina Aberta é uma tentativa de abrir novos caminhos e experimentar uma nova forma de publicação, que se inicia com o presente trabalho, e se expandirá em futuras coletâneas, eventos e na internet.

MESA 7: 10h – 11h30

-> Educação e Concretização

Dentre os atravessamentos que tem buscado ditar os rumos das políticas educacionais, as tecnologias digitais e, mais recentemente, a inteligência artificial aparecem como centrais atualmente. A polarização entre tecnofilia e tecnofobia se alternam nas propostas de como a educação pode, deve ou não deve se aproximar, apropriar ou incluir esses recursos em suas práticas. Reconhecendo que a centralidade desses elementos se deve a ubiquidade deles em nosso cotidiano, nos parece impossível o movimento de excluí-los do campo educacional. É a partir desse entendimento que o pensamento de Simondon sobre os objetos técnicos nos parece aliado fundamental para desenhar possibilidades de diálogo educacional com o digital e a IA. Ao pensar os objetos técnicos a partir das ideias de concretização e de mediação, escapando de uma lógica de dominação e subordinação, o autor no fornece pistas que permitem resgatar, e não perder de vista, a dimensão humana dos objetos técnicos e a filiação humana às tecnologias, potencializando encontros fora da esfera do medo e do estranhamento, mas repletos de parcerias e coletividades. A compatibilização entre artesanias e automatismos e entre analógico e digital tem se apresentado como uma via que confere reconhecimento e visibilidade aos limites e possibilidades desses agentes em encontros que gerem aprendizagem e sustentabilidade em direção à sobrevivência dos humanos e das técnicas e de um território de existência comum.

Alcances y límites de la concretización

La rehabilitación contemporánea del concepto simondoniano de concretización ha conducido a instalar la idea según la cual el principal aporte del MEOT anida en tematizar un desarrollo tecnológico (cuasi)autónomo, regido por pautas internas y ajeno a significaciones culturales, sociales y políticas. La presentación discutirá esta interpretación, señalará sus aporías y, a partir del problema de la tecnicidad, reivindicará el valor de la noción de conjuntos técnicos.

Alagmática da crise do ciberespaço-tempo capitalista: o caso do smartphone

Para Franco “Bifo” Berardi, ciberespaço e cibertempo se distinguem como o acoplamento infinitamente extensivo entre organismo e sistema cibernético do ciborgue neoliberal se distingue do seu substrato orgânico intensivo e finito. Para Mark Fisher, a banda-larga e os smartphones dispararam a “crise do ciberespaço-tempo capitalista” correlativa à pandemia contemporânea de transtornos mentais. Gilbert Simondon definiu a alagmática como a teoria ou ciência das operações (metaxú, ou correlações), chamando-a de “cibernética universal”. Para ele, essa teoria-ciência era “analógica”, por se voltar para identidades de relações operatórias (e não estruturais). Proponho contribuir para as análises de Bifo e Fisher a partir de uma leitura da agência sociotécnica do smartphone (mais especificamente do uso de seus sensores por aplicativos de saúde mental) à luz da alagmática simondoniana.

MESA 8: 13h30- 15h

-> Alienação e Diferença

Eu defendo uma abordagem transdisciplinar em meu trabalho, integrando justiça, ética, aprendizado de máquina e ativismo para reformular o desenvolvimento de ferramentas de IA. Estou comprometida em repensar métodos tradicionais para mitigar os impactos negativos predominantes originados dos grandes conglomerados tecnológicos do Vale do Silício, visando um futuro tecnológico mais equitativo. Olhando para o futuro, estou entusiasmada com o potencial para resultados futuros e colaborações que continuam a desafiar e expandir os limites da tecnologia e da sociedade.

Simbionte enquanto techné

Este trabalho parte da concepção da técnica como uma mediação entre o humano e a natureza, encarando-a como constitutiva da própria noção de humanidade, tanto em níveis evolutivos quanto culturais. A técnica aparecerá não é como mero instrumento, mas uma forma de individuação que co-evolui com o humano, formando uma espécie de simbionte. Inicialmente, essa relação pode ser compreendida como parasitária — aproximando-se da hipótese memética, segundo a qual o desenvolvimento da espécie e do cérebro se dá por meio de replicadores culturais — mas gradualmente se transforma em uma aliança mutualista, onde tanto o humano quanto a técnica moldam e são moldados um pelo outro.

Inspirados pela teoria da simbiose de Lynn Margulis, expande-se a visão do humano como uma entidade reificada , reconhecendo sua dependência com o ambiente e com outros seres vivos. Nessa linha, a técnica é compreendida de maneira ampla, e será refinada em diferentes categorias, começando com a linguagem, que aqui é tratada como o primeiro espaço da técnica e um dos diferenciais chave do “humano” em sentido lato.

Além disso, deslocamos a noção de Natureza do seu lugar essencializado para entendê-la como um espaço de indeterminação, que continuamente reconfigura as espécies, incluindo a humana. Este movimento também nos permite propor o pensamento como uma atividade coletiva e social, alinhando-nos com as reflexões de Samo Tomsic sobre a alienação. A alienação, neste contexto, não é uma mera condição a ser superada, mas um aspecto constitutivo do processo de individuação, uma forma de estranhamento que, paradoxalmente, estrutura o “Eu” ao externalizá-lo, abrindo espaço para uma reflexão sobre a exterioridade como condição de existência.

Uma Antropologia Política Transindividual

As figuras da subjetividade, do indivíduo e mesmo do homem passam por uma profunda redefinição na teoria da individuação de Gilbert Simondon. Não podendo mais ser definidas no quadro do substancialismo nem do hilemorfismo, elas requisitam um novo lugar que impacta no modo como concebemos a política.

Nessa apresentação procuramos explorar as implicações desse redimensionamento no quadro de uma axiomatização das ciências humanas que visa sanear os vícios do individualismo e do holismo, trazendo à luz um homem determinado no nível das correlações, ou seja, no regime de trocas entre o psíquico e o coletivo que Simondon nomeia transindividual.

Procuramos ainda articular essa investigação com a perspectiva bastante interessante da leitura que Balibar promove de Simondon. Nessa, a problemática antropológica aparece como uma questão preambular à problemática transindividual para desembocar em uma nova forma de abordar o político. A estratégia balibariana consiste num recurso à filosofia de Espinosa onde a noção de homem sofre o efeito de uma desantropomorfização para ser investida no seio das estruturas transindividuais. A antropologia passa a ser vista como política no sentido de que é a dimensão desejante do homem que se encontra enredada, de maneira indissolúvel, pelas instituições.

MESA 9: 15h30 – 17h

-> Mecanologia, Território e Individuação

Os territórios têm algo a dizer: quem constrói as narrativas da cidade?

Uma cidade agrega histórias infinitas. Passado, presente, memórias sobrepostas de seres em constante transformação. Perguntar sobre quem constrói as narrativas de uma cidade é abrir caminho para uma reflexão sobre os diversos desdobramentos que ocorrem na construção de um território, com suas barreiras e demarcações. É possível pensar nas histórias particulares de cada ser, mas também é possível pensar na natureza transindividual dessas histórias, implicadas por um entorno que as constituem ao mesmo tempo que exercem influência sobre elas. O estudo sobre o contexto da cidade de Campinas é referência para pensar a questão cronotopológica, com base em Simondon, assim como perspectivas de invenção através da arte, evidenciando a existência de camadas e a busca por limites permeáveis.

Toda Mecanología es Jurídica: la jurisprudencia recobrada entre Bob Dylan y Simondon

Gracias a Simondon hemos recuperado al objeto técnico para el pensamiento filosófico y para la práctica cultural. Queremos proponer pensar a la “norma jurídica” como un objeto técnico más, y a la “administración de justicia” como un forma de esquematización de operaciones jurisprudenciarias. Hasta su esquematización, estas operaciones eran de índole poética y narrativa. Creemos que la obra de Bob Dylan es heredera de estas operaciones jurisprudenciarias y que, en tanto tal, constituye un ejemplo del abordaje mecanológico propuesto por Simondon.

Psicología de la individuación y (Neo)cibernética

La psicología es un saber central para el estudio de la individuación que requiere integrar el mundo de la técnica, pero no como una relación funcional y de uso de dispositivos, sino como una mentalidad orientada a lo transindividual. Tanto para la (neo)cibernética como para la fenomenología, lo mental no es una entidad sino un operar cognitivo corporeizado, situado en un contexto y extendido por mediaciones que problematizan la relación interioridad-exterioridad. Para Simondon los principios o criterios cibernéticos operan tanto en las máquinas como en los seres vivos y se extiende al mundo social en una visión sistémica que comporta autonomía, reflexividad y autoorganización. Estas cualidades son propias de la mentalidad técnica e integran, conforme con la propuesta del autor, el saber y la acción, la epistemología y la ética.

Realização:

Red Latinoamericana de Estudios Simondonianos – RELES

Apoio:

Laboratório Interdisciplinar Interativo – LabInter – UFSM